1971 – Aluguei um VW D3 da equipe De Lamare, seria minha segunda corrida, agora como Novato.
Quando vi aquele VW azul bem baixo, com as rodas Scorro aro 13, seis polegadas de largura na frente e oito atrás, pneus Pirelli Cinturatto, 165/13 na frente e 185/13 na traseira, no motor dois Webber 48… Babei!
Sentei no banco concha, o volante Fittipaldi, no painel conta-giros, que estava quebrado, pressão de óleo e temperatura, Sto. Antonio bem feito. Apertei o cinto de segurança abdominal, outros tempos, liguei a ignição, apertei o botão de partida, o motor rugiu, engatei a primeira e fui saindo dos boxes.
O câmbio era uma Caixa 3, criação de meu amigo Miguel Crispim Ladeira, que naquele motor que devia ter no máximo 120 hps chegava a uns 80 kl/h. Fui enchendo o motor, sair com a Cx3 era complicado, entrei na pista ainda em primeira. Levei de ouvido a primeira até o limite, a segunda marcha era perto da primeira, o carro continuou acelerando forte, terceira e quarta também bem juntas, e já estava no final do Retão de Interlagos, freando para curva Três!
Com aquele câmbio algumas curvas eram feitas em terceira, segunda e nas curvas de baixa como o S e Bico de Pato em primeira.
A paixão foi imediata…
Divisão 3 era o regulamento que regia a categoria de turismo, derivado do Anexo J da Fia, permitia um sem números de modificações nos carros, desde que mantivessem a aparência original. Era dividido em três classes, “A” para motores até 1.600cc, “B” até 2.500cc, e “C” para motores acima dos 2,500cc.
Na carroceria portas, para-lamas, capôs podiam ser aliviados mantendo o material do original, o peso total podia ser aliviado até o limite do regulamento, os para-lamas depois do surgimento dos pneus “slick” em 1972 podiam ser alargados, sempre mantendo o mesmo material, apensos eram permitidos e se não me falha a memória, podiam ter no máximo 10cm.
No chassi as modificações permitidas eram somente na colocação dos motores, mantendo-se o local original podiam ser abaixados ou levantados, levados mais a frente ou atrás. As suspensões tinham que manter o sistema original com as alterações necessárias, e elas foram muitas. Freios a disco nas quatro rodas, barras estabilizadoras, amortecedores importados e rodas eram liberados.
O câmbio, podia ter sua relação de marchas modificadas livremente. Miguel Crispim Ladeira para Comercial MM, desenvolveu para o câmbio do VW as Caixa 2 e 3, onde as primeiras e segundas marchas eram fixas no eixo secundário, tendo várias opções de relações para terceira e quarta marchas, a Cx3 é a que descrevo no início, a Cx2 tinha primeira e segunda mais curtas. Para complementar a escolha da caixa de cambio a havia várias relações do diferencial, era permitido o autoblocante.
Por enquanto falamos dos VW na D3, mas em todas as classes foram usados câmbios Hewland, Colloti, Saenz, inclusive um desenvolvido pelo Antonio Ferreirinha para os VW com cinco marchas. Motores mantidos as cilindradas das classes podiam ser muito trabalhados, cabeçotes, válvulas, bomba de combustível, bomba de óleo, carburadores.
Vamos aos VW D3, categoria que entre novato e graduado fiz cerca de 25/30 corridas. Em 1971 foram cinco ou seis corridas, quando aprendi que os carros de corrida quebram, e na época muito.
Com a chegada dos motores VW 1.300cc os cabeçotes que tinham apenas uma entrada de admissão passaram a duas e possibilitaram o uso dos Webber duplos, eu e a grande maioria sempre usou os 48 IDF duplos.
Dos talvez 120 hps que cito anteriormente os motores chegaram a 1985 a 150 hps, corri com muitos de 152 hps, girando a 7.500 rpm, meu amigo Junior Lara cita motores dele com 157 hps, que giravam 8.200/8.500 rpm e tive notícias de alguns com 160/165 hps.
Grandes preparadores com comandos e outras peças vindas dos EUA ou Europa tiravam cada vez mais daquele motorzinho que saia de fábrica com cerca de 45 hps e girava 4.500 rpm, Crispim, Amador Pedro, Giba, Gigante, Chapa, Robertinho da Autozoom e outros faziam maravilhas com eles, o único senão é que quebravam muito. Pilotos de ponta nunca iam para pista com apenas um, em Tarumã o Jr. Lara conta que em uma das disputas do campeonato brasileiro quebrou quatro! E cada motor destes custava uma fábula.
Um dia conto mais a vocês, agora vou mostrar alguns carros da época, com amigos que até hoje são próximos, alguns já subiram antes da bandeirada final, fazem muita falta, serão sempre lembrados, por nós e por um público que até hoje décadas depois ainda lembra daqueles pilotos e seus pequenos foguetes.
As fotos aqui mostradas são na grande maioria de meu arquivo.
Dedico aos amigos que fiz durante estes cinquenta e tantos anos, alguns amigos de juventude, muito antes de estarmos juntos nas pistas, não vou citar uma a um, certamente vocês vão saber pelas fotos. Ainda hoje nos reunimos e fofocamos, alguns infelizmente já subiram e fazem uma tremenda falta.
Rui Amaral Jr