Décadas de 30/40 do século passado na Argentina, as corridas em estradas eram disputadissimas, os carros chamados de carreteras – estradas em castelhano -, seus pilotos heróis nacionais, entre eles Juan Manoel Fangio, que na década de 1950 venceu apenas cinco títulos mundiais da F.Um, sendo duas vezes vice.
Eram os Ford, Chevrolet, Mercury e outras marcas com seu peso totalmente aliviado, paralamas cortados, suspensões reforçadas e motores preparados, a correrem pelas estradas/carreteras argentinas e fazendo ídolos. Poderia citar talvez dezenas, mas Fangio e José Froilàn Gonzales, dois vencedores na F.Um décadas depois, exemplificam a força do que eram essas corridas.
No Brasil, as carreteras entraram pelo Sul, com mais força pelo Rio Grande do Sul revelando grandes nomes de nosso automobilismo. Catharino e Julio Andreatta, Orlando Menegaz, Breno Fornari, José Asmuz, Ítalo Bertão e dezenas de outros. Nas primeiras Mil MIlhas Brasileiras no ano de 1956 a vitória foi de Catharino Andreatta e Breno Fornari e até 1962 venceram mais quatro vezes com Catharino, Breno, Menegaz com mais de uma vitória cada.
No meio da década de 1950, foi lançado um carro e motor da Chevrolet que revolucionou o mundo do automobilismo, foi o Chevrolet Corvette, até hoje um sonho de consumo de muitos.
No regulamento das carreteras era possível instalar naqueles sedãs antigos motores mais novos, desde que do mesmo fabricante. Foi quando as carreteras decolaram no automobilismo paulista e brasileiro. Tenho que lembrar que na época o único autódromo basileiro era Interlagos.
Aqui em São Paulo alguns nomes se destacam, Carlinhos Aguiar, Caetano Damiani, Vitório Azzalin, Justino de Maio, Donato Malzoni e tantos outros.
Mas hoje quero falar de um ídolo, não apenas meu, mas de uma grande quantidade de pilotos que com ele conviveram, duas ou três gerações. Ídolo de um bairro, uma cidade, um estado, um país… Camilo Christófaro e sua carretera #18, o Lobo do Canindé, bairro paulistano onde morava e tinha sua oficina.
Camilo correu em várias categorias, e no final da década de 1950, de seu Chevrolet 1937 coupe, começou a fazer a carretera que fez história, sendo talvez o carro mais desenvolvido por suas constantes modificações, em década e meia de nosso automobilismo.
O Chevrolet 37 coupe recortado, abaixado em toda sua extensão, colocação do piloto mais atrás, rodas raiadas e um potente motor Corvette na frente, assim nascia uma lenda.
Camilo era sobrinho do grande Chico Landi, que junto com Christian Heins vencera as Mil MIlhas Brasileiras de 1961 com um JK/Alfa Romeo batendo pela primeira vez as carreteras gaúchas na lendária corrida, e apesar de vencer em outras grandes corridas perseguia a vitória nas Mil Milhas.
Na semana da corrida, eu então com 13 anos perturbava minha mãe, “quero ir a Interlagos, ver o Camilo vencer”. Moravamos no Pacaembú, na época ir até Interlagos era uma longa viagem, ela não me permitiu assistir a largada à meia noite em ponto, e pela manhã mandou que alguém, provavelmente nosso motorista “seu” Lauro nos deixasse lá. Deixados, um amigo e eu e vimos Interlagos lotado, lá de fora ouvíamos o som estridente dos motores e dizíamos “é o Camilo!”. Sentamos nas arquibancadas em frente aos antigos boxes, no Café, e para nossa decepção quem liderava era o DKW-Malzoni de dois moleques pouco anos mais velhos que nós, Jan Balder e Emerson Fittipaldi, capitaneados por Miguel Crispim Ladeira vinham na ponta, nem ligamos para eles, mal sabíamos das glorias que esses três nomes trariam pouco mais tarde ao nosso automobilismo, só Camilo importava.