Enquanto escrevia sobre o imbróglio sobre o Campeonato Mundial de 2008, minha mente voava, milhares histórias que leio desde que comecei a ler sobre automobilismo desde meus dez anos, outras, milhares que ouvi, e mais milhares que vivi.
Eu era tão ligado que quando saiu a então ótima revista Auto Esporte, ganhei uma assinatura e o assinante era um tal de “Jim Clark do Amaral”!
Clark meu ídolo maior, com o tempo foram aparecendo outros…
Escrevia e ia pensando, histórias de muito antes de meu nascimento, que li e não esqueço, outras de antes de começar a correr, e muitas destes meus setenta anos de vida.
Não sou Ferrarista ( se não escrever com maiúsculas eles me amaldiçoam! ) , mas minha admiração por Enzo Ferrari e sua rica história é enorme.
Costumo dizer que quando ele soltava um traque a Itália e a FIA se borravam. Era fera defendendo sua Ferrari, encarava e batia de frente com quem quer que fosse, mandava, não pedia.
Voltemos à década de 1920 quando Enzo tomou uma sábia decisão. Treinando para Targa Florio andou ao lado de Tazio Nuvolari, vendo e sentindo a velocidade dele resolveu abandonar a carreira de piloto e se dedicar à chefiar uma equipe. Sua Scuderia Ferrari passou a ser a equipe oficial da Alfa Romeo.
Sobre Tazio ele vaticinou anos depois “não houve, não há e nunca haverá piloto igual!”, concordo com ele, um dia mostro mais de Tazio para vocês, meu amigo e parceiro de escritas Carlos Henrique – Caranguejo – Mércio muito escrevemos sobre ele.
Depois de deixar a Alfa Romeo, onde por mais de vinte anos colecionou inúmeras vitórias em todas as categorias em que participou, tendo em sua Scuderia Ferrari os maiores pilotos da pré guerra.
Enzo cumprimenta Antonio Ascari após a vitória, ao lado no colo de um dos membros da equipe Alberto “Ciccio” Ascari, futuro bi-campeão do mundo. Antonio perdeu a vida um ano após no GP da França.
Depois de um período de quarentena quando não podia usar sua marca e usou a marca Auto Avia Costruzioni, Enzo pode enfim ostentar a marca Ferrari em seus carros, e as vitórias voltaram e vieram aos montes, Le Mans 1949, Targa Florio 1948/49. Mille Miglia 1948/49/50/51/52/53, fora as demais categorias em que participou.
No Mundial de F.Um de 1950, que na época era apenas de pilotos, a Ferrari correu com a 125 V12 com compressor e a 275 V12 de 3.300cc, sem vitórias, tendo Alberto “Ciccio” Ascari ficado com o quarto lugar no mundial, atrás das Alfa Romeo, e da Talbot Lago de Louis Rosier.
Em 1952 a Ferrari vem com uma equipe forte com Alberto “Ciccio”Ascari, José Froilán González, Piero Taruffi, Luigi “Gigi” Villoresi, apostando agora na 375 aspirada. A primeira vitória como marca e equipe vence com José Froilán González, no GP da Inglaterra em Silverstone, e Ciccio Ascari vindo mostrar ao que veio chega perto de Fangio o campeão, vencendo duas vezes. Era a Ferrari querendo dominar a categoria!
Vamos ao campeonato de 1952, e o Comendador… A FIA, decide mudar o regulamento dos motores, coisa que fez várias vezes nesses setenta e cinco anos da F.Um, os motores seriam de 2.500cc aspirados e 750cc comprimidos. Na época dois carros assombravam os outros concorrentes, já com os motores de 2.500cc, a BRM V16, um belo motor de dezesseis cilindros que urrava, Fangio e Gonzalez já haviam andado com ele, ainda sem muitos acertos eram rápidos. Da Alemanha vinha a Mercedes Benz, que havia junto com a Audi no pré guerra, vencido muito, altamente subdisidiadas pelo regime de então. Agora a grana também era alta, a Alemanha Ocidental era altamente abastecida pelo dinheiro vindo do Plano Marshall, consequentemente suas indústrias prevaleciam e entre elas a Mercedes Benz.
Aí entra o fator Enzo! Com muito menos grana para o novo motor, ele “sugere” que as temporadas de 1953/54 sejam corridas com os carros da Formula 2. Acontece que por mero acaso sua Ferrari 500 da F.2 vem arrasando a concorrência com Gigi Villoresi e seu pupilo Ciccio Ascari, preparadíssimo para ser campeão.
Com uma grande equipe a Ferrari veio para vencer, os pilotos Alberto Ascari, Giuseppe “Nino” Farina, Luigi “Gigi” Villoresi, Piero Taruffi e ainda dois ou três carros particulares. A Maserati, rival da Ferrari na F.2 vinha com os pilotos Froilán González e Felice Bonetto, tocando a Maserati A6 L6, Fangio acidentado em Monza, só participou do campeonato mais tarde. .
Das dezessete corridas dessas duas temporadas, Ciccio Ascari venceu quatorze, sendo as outras vencidas por Piero Taruffi e Mike Hawthorn seus companheiros de equipe, e Juan Manoel Fangio com a Maserati.
À Enzo Ferrari – Sou admirador de Enzo, desculpem a intimidade, por tudo que fez, mas antes de tudo por perseguir seu sonho e transforma-lo em realidade.
Rui Amaral Jr